OS RETORNADOS DO ULTRAMAR……verdades incontornáveis.

Até que enfim…

Sempre disse  que a vinda dos “retornados” foi uma transfusão de sangue para  este país envelhecido, amorfo, estagnado…

De repente,  milhares de pessoas com outros horizontes, maior abertura de espírito, força  de vontade e absoluta necessidade de começar vida noutro lugar por lhe ter  sido tirado o chão onde viviam (e gostariam de ter continuado a viver!),  espalhou-se por todo este território…

Houve de  tudo, como sempre… bons e maus exemplos, mas o saldo foi positivo e este  artigo revela alguns dados importantes.

Bem podemos  divulgá-lo e mostrar a todos que a vinda dos africanos depois da  “descolonização exemplar” só veio beneficiar o rectângulo onde  nem foram assim tão bem recebidos…

Embora tardio é mesmo assim muito útil para que estes números possam ficar na memória de quem, na altura, contestou o interesse e a utilidade do nosso regresso à Terra-Mãe!

Os Retornados!!!

 VERDADES      INCONTORNÁVEIS

Uma        das ideias feitas que ainda hoje subsiste no nosso País, é a de que os        «retornados do Ultramar» constituíam uma legião de indivíduos que        vieram agravar de várias formas o já de si deplorável estado da        sociedade portuguesa à data da Descolonização.  Sociedade que        estava sofrendo o inevitável depauperamento causado pela emigração        maciça dos seus braços mais válidos em busca de melhores condições de        vida, sangria que começara muito antes das chamadas «guerra colonial» e        que esta veio inevitavelmente acentuar. Disse-se, escreveu-se, e ficou        gravado no entendimento comum dos portugueses, que a maioria dos        retornados era uma legião de pessoas rudes, na maioria já de idades        avançadas, que tinham queimado as suas energias pelas terras de África,        pouco produtivas para a tarefa da reconstrução nacional, e sobretudo        escassamente preparados do ponto de vista profissional. A ideia geral        que se fazia — e intencionalmente se propalou!… acerca dos        retornados do ex-Ultramar, era a de uma maioria de rudes capatazes        agrícolas, broncos e violentos, de astutos comerciantes do mato, e de        uns tantos «endinheirados» que exploravam negócios altamente chorudos!

Acontece que os sucessivos contingentes que os aviões despejavam        diariamente no Aeroporto de Lisboa, nos dois ou três meses que se        seguiram ao êxodo maciço dos portugueses de Angola e de Moçambique, bem        como as imagens fotográficas ou da Televisão, davam uma aparência de        realidade a tão deploráveis e errados juízos. São hoje suficientemente        conhecidas as deploráveis condições em que os retornados de Angola e        Moçambique regressaram a Portugal – nove em cada dez, apenas com as        roupas que tinham vestidas no momento do embarque, por não terem tido        tempo nem possibilidade de voltar aos lares de onde tinham sido        expulsos a ferro e fogo para salvar as vidas. Todavia, serenada a        tempestade ou calamidade que se abateu sobre os retornados do Ultramar,        acalmadas as inevitáveis paixões políticas e serenados os juízos precipitados — as        estatísticas encarregaram-se de rectificar as asneiras insidiosas e        intencionais, e de dar ao País um retrato real dos retornados, sob mais        diversos aspectos. Paralelamente, as manipulações da opinião pública        foram cessando, e estudiosos atentos e imparciais debruçaram-se sobre a        realidade – e os retornados do ex-Ultramar surgem aos olhos da opinião        pública e dos seus concidadãos em geral, como aquilo que na realidade        são. Para esboçar esse retrato do retornado socorremo-nos de um valioso        e insuspeito estudo realizado por um grupo de universitários, prefaciado        por uma brilhante Secretária de Estado de um dos Governos pós 25 de        Abril, editado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento, para        neste momento e neste local, traçarmos um RETRATO DE CORPO INTEIRO dos        retornados, e da sua contribuição para a revitalização da sociedade        portuguesa. O apuramento realizado pelo Instituto Nacional de        Estatística em 1978, citado pelo referido grupo de universitários no        estudo que consultámos, referia a existência de 505.078 indivíduos        entrados no País e inscritos como «retornados do Ultramar». Em termos        percentuais esses 505 mil retornados representavam pouco mais de 5% do        total da população nacional.
Este número é discutível        e muitas fontes insistem em números mais elevados, entre 700 a 800 mil. Mas        trata-se de números oficiais, registados pela estatística oficial, e é        em presença deles que temos de raciocinar. Ora, segundo os números do        Instituto Nacional de Estatística, daqueles 505.078 retornados, um        pouco mais de metade – exactamente 298.968 – eram nascidos ou oriundos        de Portugal, e portanto os restantes 206.110 eram portugueses já        nascidos nas então províncias ultramarinas. Por enquanto trata-se        apenas de distinguir entre portugueses oriundos de Portugal que        regressavam ao país de origem, e portugueses nascidos noutras terras e        aos quais, só por isso, parecia querer negar-se a qualidade de        portugueses também… Porém, o que é realmente importante, e mostra        insofismavelmente que os retornados vieram rejuvenescer a sociedade        portuguesa, é a observação desses dados estatísticos quando entra na        discriminação etária, cultural e profissional dos retornados. Assim,        sob tais aspectos, verifica-se que: daqueles 505.078 retornados, 65,5%        tinham menos de 40 anos e constituíam portanto uma parcela válida. Mas        acima dos 40 e até aos 64 anos a percentagem de retornados era de 29,8%        – todos sabem como no Ultramar os homens até aos 60 anos eram uma das        parcelas mais válidas das populações, senão em energias físicas pelo        menos em saber e experiência acumulada. Além disso, do total de retornados,        52,74% eram homens e apenas 47,26% mulheres — o que pressupõe uma        maioria de braços válidos para o trabalho. Porém, um dos aspectos mais        importantes desta notação estatística, é aquele que refere que a        população retornada era em regra profissional e intelectualmente mais        bem preparada do que a da metrópole, pois que do recenseamento        efectuado, resultava que: 48,4% tinha instrução primária (numa época em        que na metrópole havia mais de 20% de analfabetos); e dos restantes        51,6%, descontando apenas 6,5% de não-alfabetizados constituídos quase        exclusivamente por crianças com menos de 10 anos de idade, havia 8,5%        de possuidores de cursos superiores incluindo médicos, professores        universitários, investigadores, advogados, etc., e mais de 30% possuíam        cursos médios, secundários e profissionais. Com a entrada dos retornados, a sociedade        portuguesa foi subitamente enriquecida com mais de 5.000 mil        engenheiros, arquitectos e técnicos dos mais elevados graus e ramos da        engenharia civil e de minas, de industrias transformadoras e outras;        cerca de 1.800 biólogos, agrónomos, investigadores dos ramos        fisico-químicos e similares; quase 13.000 professores e outros docentes        de todos os ramos do ensino, desde o primário ao universitário; 325        navegadores, pilotos e outro pessoal especializado da navegação aérea e        marítima; cerca de 16.000 quadros de serviços administrativos e outros,        desde estenógrafas a operadores de informática. No sector        da produção, a força do trabalho metropolitana foi enriquecida com mais        13.000 mecânicos especializados; cerca de 7.000 serralheiros civis,        montadores de estruturas metálicas, caldeireiros e profissões        similares. A construção civil, cuja maior força de trabalho        tinha emigrado para os países da Europa, foi enriquecida com 13.000        pedreiros, carpinteiros e outros profissionais dos mais diversos ramos.As indústrias transformadoras foram enriquecidas com mais 12.000 operários        especializados, desde os ramos têxtil ao da alimentação e bebidas, da        mecânica fina ao mobiliário. O sector dos transportes viu-se        repentinamente valorizado com a entrada de mais 13.000 condutores de        veículos pesados e de transportes públicos. No sector        agro-pecuário surgiram mais 16.000 capatazes e e condutores de trabalhos        agrícolas, de maneio e tratamento de gados ou de exploração florestal,        em escalas que, em muitos casos, não eram conhecidas neste país. Mas        vieram ainda cerca de dez mil trabalhadores dos ramos de hotelaria,        restaurantes e similares, cozinheiros, ecónomos e outros. Porém,        e talvez mais importante ainda que as suas especializações        profissionais, os retornados trouxeram à força de trabalho do País a        contribuição valiosíssima da disciplina, da produtividade, da        assiduidade, que rapidamente os distinguiram (e não raro os tornaram        detestados…) num ambiente em que apenas se falava de postos de        trabalho… mas não se trabalhava; em que o absentismo ascendeu a taxas        inconcebíveis, em que os locais de trabalho se transformaram em centros        de organização de manifestações a propósito de tudo e de nada.        Cremos que estes números, extraídos de fontes absolutamente        insuspeitas, serão suficientes para desfazer certas ideias que,        infelizmente, ainda de tempos a tempos afloram em certos meios e em        determinadas ocasiões, acerca dos Retornados do ex-Ultramar. Na        realidade, e a despeito das desgraçadas condições em que se desenrolou        o seu regresso à Pátria de origem ou de opção – o fluxo dos retornados        constituiu na realidade um indiscutível e precioso factor de        valorização da sociedade portuguesa,

 

 

 

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