A BORBOLETA E A ABELHA

Fábula Infantil

por Afonso Lopes, Domingo, 24 de Julho de 2011 às 22:08

Uma bela e airosa borboleta, de asas multicoloridas, visitava uma cerejeira, quando, ao pousar numa das suas flores, encontrou uma abelha muito atarefada, que colhia pólen e néctar para os transportar para a sua colmeia. A borboleta reparou que, nas patas traseiras da abelha, existiam duas pequenas bolinhas amarelas que, pensou, seriam de pólen. Aquele pólen, ali acumulado, era certamente o resultado do trabalho diário da abelha. O pólen das flores é um alimento precioso para as abelhas. Ele serve-lhes também para fabricarem cera. A cera é um produto indispensável para que as abelhas possam construir os seus favos e neles armazenarem o pólen e o mel. Mas os favos são igualmente necessários para a reprodução do enxame. Sem eles, a rainha não teria onde colocar os seus ovos para assegurar o constante repovoamento da colmeia e produzir novos enxames. As colmeias são sociedades altamente organizadas e perfeitas, onde cada abelha tem uma função própria. As abelhas são altamente disciplinadas e trabalhadoras e cada uma tem de contribuir, de forma conjugada, para o bem da colmeia. As borboletas não gostam de se encontrar com as abelhas nas flores, pois não possuem meios para se defenderem da sua agressividade. As abelhas, por sua vez, também não gostam que as borboletas as importunem quando andam a trabalhar, porque  competem com elas na recolha de néctar. Para as borboletas, este é apenas um alimento de sobrevivência diária e, por isso, de consumo constante.

    Quando a borboleta deste conto pousou na flor de cerejeira, a abelha que ali estava começou logo a resmungar.

 ─  Que vens aqui fazer borboleta?

 ─ Olha, abelha, venho à procura de néctar para me alimentar.

 ─ Mas tu és cega, ou fazes-te cega? Tu não vês que eu ando a trabalhar nesta flor? Tu tens muitas outras flores onde podes  ir procurar o teu néctar.  Então, vai-te já embora e deixa-me trabalhar em paz. Se não desapareceres já daqui, pico-te na barriga.

  ─ Olha, abelha, não sejas assim tão egoísta e má. Deixa-me estar aqui e partilhar contigo o néctar. Eu gostava de ser tua amiga. Sempre podíamos conversar.

 ─ Ó, borboleta, eu não tenho a tua vida. Não tenho tempo para conversar, nem para fazer amizades. Isso é muito bom para ti, que não fazes nada.

 

 

 ─ Não faço nada? Isso não é bem assim. Já percebeste que estás a ofender-me? Bem, mas eu até te compreendo. Tu não és livre como eu, que sou independente. Tu tens obrigações sociais, tens uma rainha que te dá ordens e que não te deixa descansar. Eu não tenho essas obrigações. Não tenho de trabalhar para ninguém. O meu trabalho diário é voar e visitar as flores, fertilizá-las e beber o seu néctar. Ah, espera, já me estava a esquecer, tenho também de me acasalar para poder pôr ovos. Tu, abelha, deves ser muito infeliz. Não podes descansar, nem viver para ti. Não podes ter filhos teus, porque não podes pôr ovos. Tens de cuidar dos filhos da tua rainha.

 ─ Sim, é bem verdade o que tu estás a dizer. Mas, enganas-te numa coisa. Eu partilho com os outros os meus alimentos e o meu trabalho. Tu, não tens de   partilhar nada com ninguém e passas a vida a passear.

    Afinal, quem é que é a egoísta? Tu ou eu ?  Qual é então a tua utilidade.

 ─ Olha, abelha, tu és muito cega. Tens dois olhos grandes mas não vês, ou então vês muito pouco.

  ─ Não vejo? Porque razão dizes que não vejo?

  ─ Digo, sim, pois nem sequer consegues perceber que muitas das flores que tu visitas, são de plantas que as borboletas como eu ajudaram a nascer.

 ─ Como assim, vaidosa e inútil borboleta?

    Então, ó cegueta, não vês que nós também  polinizamos  as flores ? Polinizamos mais do que vocês, pois visitamos muitas mais flores!

 ─ Ah, sim, é verdade. Desculpa, realmente ainda não me tinha apercebido disso.   Pronto, vamos fazer as pazes e ser amigas. Estás de acordo?

 ─ Estou de acordo, eu gosto de me dar bem com toda a gente..

 Moral deste conto :  A falta de diálogo e esclarecimento pode provocar grandes desentendimentos.

Este conto faz parte da minha obra Infanto-Juvenil  ”O Mundo Encantado das Borboletas” que pode ser adquirida por pedido para o e-mail: angolano29@ymail.com

 

Esta entrada foi publicada em Literatura Infantil, O CANTINHO DOS JOVENS. ligação permanente.

Uma resposta a A BORBOLETA E A ABELHA

  1. Histórias como esta vale a pena ler para nossas crianças. Chega de jogos eletrónicos e brincadeiras sem graça. Voltemos aos bons tempos da Literatura Infantil, de carácter lúdico que faz a criançada sonhar…
    Sucessos, senhor Escritor!!!
    Ivanir Faria.

Deixe um comentário